"Entendemos que os seres contingentes são aqueles que dependem de outros para poder ser (ou para poder existir) um cachorro depende de outro cachorro para poder ser, um ser humano depende dos seus pais para poder existir e é assim com todas as coisas."
Essa é basicamente a análise da contingência. "Ora, bem" diz Oppy:
"É verdade que temos seres contingentes na realidade, mas como isso prova que pode existir um ser necessário? Bom, pode perfeitamente ser o caso de uma regressão infinita de seres contingentes, uma circularidade de dependência de seres contingentes. Então, vemos que não é necessário apelar à uma causa que esteja além da circularidade da dependência dos seres contingentes, basta com que os seres contingentes venham à existência de uns aos outros de forma contínua e de forma simultânea. Mas isso significa, portanto, que temos seres que são contingentes que explicam a contingência de outros seres. Assim, a contingência explica a contingência."
Resposta de Jader:
Esta é basicamente a análise para contestar o argumento da contingência (que nos levaria a existência de um ser que está além dos seres contingentes, ou seja, que não é contingente, mas é absolutamente necessário e que tem existência por si mesmo e que não depende de nada para por ser ou para poder existir) então, para Oppy, o argumento da contingência pode ser objetado com este argumento. Simplesmente porque ele tem na mira outro argumento, outra formulação, outra versão da contingência. Mas os tomistas não tem porque objetar essa objeção (da mesma forma que faria, por exemplo, um defensor do argumento da contingência racionalista de Leibniz). Para os tomistas, a contingência é baseada principalmente por alguns princípios inerentes aos seres, existem certos princípios indicativos nos seres que lhes fazem depender de outro ser para poder existir. Para Leibniz, isso não é bem assim. Certamente entre a metafísica tomista e a metafísica de Leibniz há uma diferença bastante importante. Então, antes de tudo, o que temos que fazer é especificar (esclarecer um pouco) qual é o tipo de contingência a qual se refere Oppy. Porque nós, tomistas, entendemos que os seres contingentes possuem princípios indicativos que fazem com que, então, dependam estes entes de outros para poder ser. Então, o princípio da contingência se baseia principalmente na análise entitativa, na análise do ser. Fazemos uma distinção entre o princípio da razão suficiente e a contingência, em tomar os termos do princípio da razão suficiente. Isso poder ser entendido de duas maneiras:
1- Princípio da razão suficiente intrínseco;
E
2- Princípio da razão suficiente extrínseco.
O princípio da razão suficiente intrínseco é o princípio da razão suficiente enquanto a inteligibilidade do ser, e o princípio da razão suficiente extrínseco é simplesmente o princípio de razão suficiente nos termos da contingência aplicada aos seres, quando uma coisa realmente depende de outra coisa para poder ser. A contingência é baseada em certos princípios inerentes à entidade, portanto, os princípios que permitem a contingência dos seres são princípios entitativos (Edward Feser chama isso de "instabilidade existencial"). Os seres possuem instabilidade existencial para existir, isto é, os seres materiais e naturais em virtude de sua natureza, eles necessitam de algo para poder ser. Então, como isso pode ser contestado com o argumento de Oppy? De nenhuma forma! Porque Oppy simplesmente está olhando para outro tipo de análise a respeito da contingência dos seres, então, para nós sim, nós podemos perfeitamente apelar à contingência dos seres infinita, os seres dependem de outros seres para poder ser, uma dependência ontológica circular, etc. Mas o que nos interessa em primeiro lugar é a existência concreta individual dos seres que existem contingentemente. Se a cadeia é composta de seres que são contingentes, a cadeia por si mesma não pode ser necessária, logo é contingente. Se a cadeia não é necessária, mas contingente, então a própria cadeia depende de um ser que é necessário, principalmente porque tudo aquilo que é contingente depende de outro para poder ser, não podemos retroceder infinitamente em uma cadeia causal de seres contingentes. Isso é impossível. Os infinitos não existem fisicamente e nem metafisicamente. Então, o argumento de Oppy simplesmente fracassa, por ser um argumento totalmente defeituoso (apesar do Oppy ser um grande pensador, um dos ateus contemporâneos mais eruditos) mas, sinceramente, nisso eu creio que ele erra de forma terrível, porque ele apresenta um argumento que é simplesmente insustentável. É inconcebível como uma dependência ontológica dos seres contingentes pode ser circular ou infinita, "a própria cadeia (sendo contingente) não precisa de outro ser para poder existir", isso é completamente inconcebível. Nisso, Oppy fracassa miseravelmente. Bem, os tomistas não possuem maiores problemas em enfrentar esta objeção de Oppy. Se Oppy, é claro, pretende refutar o argumento da contingência nos termos tomistas, ele deve apelar a outro tipo de análise da contingência, ele deve objetar de uma maneira distinta.
Vídeo onde o Jader aborda sobre essa questão:
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