sábado, 5 de fevereiro de 2022

Douglas (Distributista Cristão): sobre o nominalismo de Ockham


Introdução:

Tenho que falar de coisas que vão chocar alguns: é comum no meio católico falarmos que o nominalismo de Ockham é heresia, e termos o tomismo-aristotélico como referência, mas o nominalismo de Ockham é consequência previsível do tomismo-aristotélico.

As duas fases de Aristóteles:

Aliás, Aristóteles tem duas fases:

1) Quando estava investigando abstratos, partindo do que ele queria construir para a biologia, ele acreditava que abstratos não tinham substância, não há nada essencial em abstratos e que portanto nada que não exista em quanto gênero natural na natureza tem essência. Aristóteles no inicio de sua obra é um realista radical, ou seja, um "kripto-nominalista".

2) Depois ele dá o braço a torcer e distingue a substância primeira da segunda, é só nessa distinção que ele "aceita", com dificuldade, a substância segunda enquanto abstratos formalizados por abstração do que se concebe na experiência sensível, e que são apenas conceitos da mente. Aqui, ele vira realista moderado e tornar-se precursor do conceptualismo ontológico.

O realismo ontológico e a tradição católica:

O realismo ontológico, que é acreditar que abstratos existem per-si fica na tradição católica até o fim da patrística, salvaguardado por santo Agostinho, que dizia que abstratos existiam na mente de Deus, que seria a Logos que contém as leis e os universais abstratos que predicam e descrevem a realidade.

A volta do aristotelismo através de Tomás de Aquino e o início da decadência do realismo teológico/metafísico:
Quando Tomás de Aquino traz o aristotelismo de volta, toda a escolástica não é mais realista, é realista moderada-conceptualista e torna-se bastante empirista e passa novamente a desconsiderar abstratos como tendo substância. É por isso que é pós-Aquino que surge os empiristas como Bacon e etc. A filosofia de Aquino, infelizmente, trouxe fôlego para o empirismo medieval que foi berço do proto-positivismo. Os escolásticos tardios já eram todos nominalistas. Okcham quando diz que abstratos são só flatus vocis, diferente do que a maior parte dos católicos pensam, não traz nada de novo "negando abstratos", porque abstratos já eram negados por toda tradição medieval desde Aquino, para todos eles abstratos não existiam em-si, eram só conceito mental mesmo.

É daí que odiamos empirismo puro, odiamos positivistas, odiamos o nominalismo que dizemos ser raiz do ateísmo, mas se a gente ficar retrocedendo isso, a culpa tá no próprio Aquino que trouxe o aristotelismo de volta contra o realismo metafísico da patrística neo-platonista.

Santo Agostinho, neo-platonismo cristão primitivo, etc. Contém uma defesa muito mais "forte" contra o ateísmo do que o conceptualismo aristotélico de Aquino.

Por uma ironia da história da filosofia, temos Aquino como o marco máximo da teologia católica mas que é também o marco do início da decadência do realismo teológico/metafísico, porque está justo nesse rompimento da gênese do nominalismo.

Texto do Douglas:

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