sábado, 5 de fevereiro de 2022

Douglas (Distributista Cristão): a briga entre Hegel e Schopenhauer


A briga Schopenhauer x Hegel é muito mais antiga do que parece. As cosmologias (ou cosmoganias) na transição do teísmo ou politeísmo para o panteísmo ou panenteísmo tem duas origens:

1) No orfismo (e não se sabe se Pitágoras influenciou o orfismo e é um percursor deste ou se o orfismo influenciou Pitágoras.

2) E com os Vedas, que está para o hinduísmo. O sistema védico e o sistema órfico são os mais antigos no ocidente e oriente a respeito de "metafísica" e há um debate muito grande para saber ao certo qual dos dois influenciou mais a filosofia ocidental. Sabe-se que Platão foi ao Egito e lá teria conhecido o hermeticismo egípcio, e chamam de corrente dourada o grupo de filósofos "órficos" (Pitágoras, Platão e neo-platonistas). Mas também há especulações de que alguns neo-platonistas teriam ido a Índia e conhecido os Vedas e teriam sido influenciados pelo sistema védico (Guénon e os perenialistas falam mais desta parte). Ou seja, quanto ao sistema transcendental das religiões e mitos-ocultos há uma certa disputa entre pagãos-clássicos, neo-platonicos e perenialistas. Perenialistas dizem que a raiz está nos Vedas hindus e os neo-platônicos tardios dizem que está no orfismo.

Existem outras transformações na história da filosofia que levam ao religamento da filosofia ocidental com a oriental que está antes ainda de Schopenhauer. Está em Spinoza e em Hegel. Na renascença, ressuscitam a gnose no século III e tentam retornar os textos neo-platônicos e etc. é nesse período que surge a criação de livros como "tábua de esmeralda", "clavícula de salomão" e etc. a sincretização do cristianismo com o hermeticismo "egípcio"/órfico. Também há o intercâmbio com a cultura hindu, enfim, toda essa salada de fruta culmina com o panteísmo de Spinoza e a criação da rosa cruz e o panendeísmo de Kant (alguns chamam Kant de deísta, eu prefiro chamar de panendeísta). Então você tem o surgimento do panendeísmo-luterano kantiano e do panteísmo de Spinoza, o surgimento da rosa cruz (que é o sincretismo luterano-hermético), daí surge Leibniz (presidente da rosa cruz), e Hegel (panenteísta), sincretizando o panteísmo de Spinoza para resolver aporias em Kant, mas tentando realizar um retorno ao platonismo idealista clássico. Hegel não chegou a ser da rosa cruz, mas era simpático a esta, e sua filosofia da dialética transcendental do espírito influenciou Blavatsky.

Enquanto Hegel tentava voltar ao idealismo clássico e a Platão, Schopenhauer puxava o saco do kantismo.

Schopenhauer de fato criou sua cosmovisão tragicista no budismo e já atribuía a essa mudança no paradigma da cosmogania filosófica ocidental a Kant e a Spinoza. A importância de Leibniz para a filosofia ocidental sair do teísmo e caminhar ainda mais para o panteísmo ou panenteísmo se dá no fato de Leibniz desenvolver a monadologia onde ele dizia que o "átomo" era a descoberta da mônada, tão buscada pelos platonistas. E isso foi o estopim para os racionalistas começarem a fazer um retorno ao monismo platônico, porque agora a mônada tinha alguma justificativa racional-cientifica.
Você tem o sistema védico-hindu, e o budismo levando a filosofia até Schopenhauer. E por outro lado, tem o sistema órfico-hermético levando a filosofia até Hegel.

Schopenhauer está para os Vedas enquanto Hegel está para o orfismo.

Enfim, como sempre, quase todas as grandes brigas na história da filosofia são antes de tudo brigas de seitas ocultistas.

Texto do Douglas:

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