O tomismo é externalista epistemológico, agostinianismo é internalista. Tomás de Aquino abstrai da teoria de iluminação de intelecto a parte mística neo-platônica de Agostinho, e a representa dentro de seu psicologismo com a teoria do fantasma e etc. O intelecto em Aquino deixa de ser outra faculdade e vira uma etapa predicativa do próprio entendimento racional.
Em Agostinho, intelecto e razão são literalmente faculdades distintas, em Tomás o homem conhece tudo pela razão, em Agostinho o homem só conhece transcendentais pelo intelecto.
Cada um tem a sua vantagem, o agostinianismo precisa apelar a partir do pressuposto da alma pra justificar e predicar a iluminação do intelecto como movimento que "intui" a causa formal da coisa, então o ateu pode simplesmente alegar a petição. O tomismo não apela à nada, supõe provar com a própria física, empirismo, etc. mas aí ele é objetado pelo criticismo ao alegar que da experiência sensível não se conhece o que é subjetivo. Como o valor, transcendentais e etc.
O tomismo está portanto no evidencialismo, o agostinianismo esta no pressuposicionalismo.
O motivo pelo qual o pressuposicionalismo surgiu entre a apologética protestante se deu justamente pelo movimento luterano alemão de tomar o agostinianismo para si, sob a alegação de que Agostinho é pré-conciliar, portanto, não faria parte da igreja apostólica romana, e também sob alegação de que a doutrina agostiniana é baseada em cartas paulinas, toda doutrina da graça dele está ali, então alegam que a filosofia agostiniana pode ser de uso protestante por se basear na escritura enquanto o tomismo não.
A metafisica alemã, predominantemente luterana era, indiretamente, agostiniana (embora católicos e protestantes disputem entre si quem melhor interpreta a doutrina de agostinho), quando você leva a teoria da graça para o absurdo você chega no pietismo. O pietismo foi o primeiro movimento de renovação radical da fé pela fé (o que seria um movimento carismático de época), no pietismo tinha Wolff e outros teóricos próximos como Baumgarten. Por outro lado, se a teoria da graça agostiniana levou ao pietismo em um lado luterano, o internalismo geral neo-platonista de agostinho fez outros luteranos irem para o caminho oposto, para perceberem proximidade com o movimento rosa cruciano que, alegadamente hermético, também tinha em si o fundamento pretensamente neo-platonismo. O neo-platonismo no hermetismo rosa cruz e em Agostinho virou unidade transcendental pela qual luteranos se uniram a rosa cruz (como Leibniz que, inclusive, foi presidente da rosa cruz). Perceba como as duas influências de Kant são distintas entre si apesar de terem a mesma raiz agostiniana. A filosofia kantiana é quase por inteira agostiniana, e qualquer pessoa que só leu crítica da razão pura e não percebe isso é embusteiro.
Na metafisica wolffana, há duas distinções: representação clara e obscura. Não é só a wolffana, as representações claras e obscuras tal qual o entendimento do gênio permeavam todo o debate da filosofia alemã, a representação clara é a representação objetiva, racionalmente delimitada, por isso há a expressão "trazer a luz da razão " , pois a representação a luz da razão tem entendimento claro. A representação obscura é uma representação do gênio, ela não é entendida de forma objetiva, não é racionalmente delimitada, tende a abstração, ela era entendida pelos pietistas como os conhecimentos "inatos" da alma, do âmago do gênio. Quando se falava que alguém era gênio musical, ou um gênio em física, a palavra gênio trazia a predisposição de que aquela pessoa nasceu com o dom para música ou física, ou seja, com um certo inatismo que não foi aprendido posteriori pelo entendimento da razão.
São 3 as competências do espírito: sensibilidade, imaginação e juízo:
Todas as competências do espírito são representações obscuras, todas elas estão em Kant.
Além disso, a crítica da razão prática é claramente vinda da filosofia agostiniana internalista de que Deus imprime no coração humano os transcendentais, ou seja, no internalismo da verdade. É por isso mesmo que todo ser humano independente de sua cultura ou religião consegue alcançar o mesmo juízo ético, por isso em Kant o entendimento alcança a ética olhando para dentro de nós.
Em crítica da faculdade do juízo, Kant tem muita dificuldade de conseguir explicar o belo e o sublime pelo entendimento, ou seja, como representação clara. Por isso, para Kant, a faculdade judiciativa é abstrata, despropositada (representação obscura).
O rompimento do kantismo pré-crítico com o pós-crítico não é um rompimento com essa premissa, é um rompimento com a ideia do gênio, o conhecimento inato morre, se antes o inatismo nos racionalistas ou no pietismo estava do que se conhece, Kant traz o inatismo para a própria possibilidade de se conhecer, é aqui que a sensibilidade vida transcendental, pressuposta apriori como condição da possibilidade do conhecimento, que toma intuitivamente os objetos fora da mente nas formas do tempo e espaço, por isso chama-se formas puras da intuição sensível. Unificando a estética transcendental, depois o entendimento processa o que foi intuido pelas categorias do entendimento.
Quando os criticistas kantianos batem com a dialética transcendental na apologética clássica ou evidencialista, Henry Bergson percebe que o retorno a Agostinho é a solução ao próprio problema kantiano, surge aí o neo-agostinianismo e, entre protestantes, a apologética pressuposicionalista e transcendental.
Por outro lado, os novos tomistas percebem também que na dialética transcendental, Kant está batendo mais em argumentos ontológicos (pois eram estes que usavam os racionalistas na Alemanha) do que no argumento cosmológico, justamente porque não havia tomismo ali. Estes tomistas percebem a possibilidade de unificar a ontologia tomista com a epistemologia kantiana, e surge o neo-tomismo ou tomismo transcendental.
Fontes:
Crítica da razão prática - Immanuel Kant
Crítica da faculdade do juízo - Imannuel Kant
Crítica da razão pura - Immanuel Kant
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