Introdução:
Quando o problema da fenomenologia surgiu na história da filosofia com o desenvolvimento da óptica e, a seguir, a revolução copernicana, o teísmo clássico não lidou bem o problema, fato do qual até hoje católicos meio tomistas-puristas insistentemente alegam que a fenomenologia é uma mentira e que é uma heresia porque leva ao relativismo ou "solipsismo".
A questão é que o desenvolvimento que se sucedeu deste problema trouxe a apologética moderna, pressuposicionalista e transcendental, que conseguiu compreender que, diferente do que se pensava, o problema da fenomenologia é muito pior para o naturalismo e que torna a dar argumentos fortes para o teísmo.
Como lidar com o fato que só entendemos representações e que o mundo fora da nossa mente poderia ser uma mentira?
1) Resposta cartesiana:
O próprio Descartes cria o problema do gênio maligno como experiência mental para investigar que certeza poderia ter dado suas descobertas, se o que vejo, escuto, etc. é só a interpretação do meu cérebro de sinais. Um gênio maligno poderia criar todo o mundo ao meu redor como uma ilusão que, desde sempre, acontece na minha mente. Neste pressuposto, nada sei, apenas que existo. Isso prova o fatalismo cético da fenomenologia, e ele responde o problema de forma pressuposicionalista: eu só posso crer que o mundo fora da minha mente é real se eu creio em um Deus e, principalmente, que ele é bom, e sendo ele bom jamais permitiria que eu vivesse numa completa ilusão. Ou seja, o naturalismo cai em aporia. Mais tarde, quando Kant define o que é "transcendental", apesar da resposta cartesiana surgir antes, podemos dizer que ela não só é pressuposicionalista como transcendental, pois ela alenca que é preciso partir do pressuposto de que Deus existe como condição necessária da possibilidade do conhecimento.
Apesar dele já responder o problema, ainda assim, ele segue preferindo a matemática e a física teórica como epistemologia, ao invés do empirismo, porque a matemática e a física teórica são supostamente "apriori".
2) A resposta berkeleyana:
Berkeley irá além, mas ele percebe que, em Descartes mesmo, já existia outra suposta resposta que o próprio não percebeu.
Se posso considerar que um Deus maligno cria direto no meu cérebro sinais elétricos que são decodificados como as representações, criando o mundo que "experiencio", eu posso supor o mesmo para o Deus bom, o mundo fora da minha mente não existe de fato, tudo o que suponho viver existe na minha mente criado diretamente por Deus. Mas não é uma "ilusão" ou " mentira", sendo Deus o criador mesmo, e logo, a verdade é por definição aquilo que Deus dá como direção de reta verdade, o que Deus cria na minha mente é verdade, ou seja, a representação fenomenológica é exatamente o que Deus quer que eu experiencie, logo, eu posso viver com tranquilidade e sem crises céticas.
3) Resposta moderada:
De fato, eu não tenho entendimento da coisa-em-si, mas isto é uma limitação da minha sensibilidade que me foi imposta por Deus porque isso me é bom.
Se imagine agora sentado, em frente ao computador, você tem um roteador, um celular e ao seu redor existem cabos elétricos que geram campo elétrico e magnético, cada objeto ao seu redor reflete uma variedade de ondas em frequências distintas. Se você pudesse enxergar cada objeto em sua totalidade você não conseguiria enxergar nada, você sequer seria capaz de entender o que está experienciando (seria como tomar um ácido e ficar muito louco, vendo várias cores sem conseguir distinguir o que é o que).
Nós não temos acesso a coisa-em-si porque isso nos é bom, nós temos acesso as representações que Deus julgou serem as representações suficientes para que a gente possa viver no mundo ao nosso redor da forma menos problemática possível.
A cobra entende o mundo de outra forma e o morcego de outra forma, Deus criou cada animal com suas próprias formas da sensibilidade (estética transcendental) porque ele quis e ponto final.
Vivemos, portanto, com fé de que o que a gente experiência é o que Deus julga que deve ser.
O argumento do evolucionismo contra o naturalismo usado por Plantinga está aqui, na moderada.
Tudo isso está entre o que se pode chamar por pressuposicionalismo e transcendental. Adendo: enquanto isso se desenvolveu na história da filosofia, esses termos nem existiam. Eles foram formalizados tardiamente apenas para organizar os manuais de apologética. Não adianta nada vocês ficarem brincando no parquinho citando essas coisas se não compreendem de onde essa joça surgiu.
Texto do Douglas:
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