quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Douglas (Distributista Cristão): Bertrand Russel, Kurt Gödel, história da filosofia, neo-kantianos e neo-positivistas


O que ocorre na história da filosofia que leva ao debate entre Russel e Gödel, ou entre neo-positivistas e neo-kantianos (como Gödel), no círculo de Vienna é o seguinte:

Até o racionalismo moderno, imperava uma tradição metafísica na filosofia que era a distinção do númeno e do phenomenon, tradição que vinha desde o idealismo platônico. De idealistas a racionalistas, havia a compreensão que é necessário algo exterior a realidade sensível e que a predica, ou seja, Deus da qual deriva a logos que descreve a realidade e a sustenta. Fosse Platão com sua teoria de que o mundo sensível é ilusão ou manifestação imperfeita do mundo das ideias ou fosse Descartes com um intuicionismo de que podemos ter certeza de nossa existência sem experiencia sensível e de que é necessário crer em Deus para justificar a possibilidade do conhecimento do mundo sensível ou fosse em Kant com a teoria de que, ainda que contrário a Descartes, afirmando que todo conhecimento começa na experiência sensível, ainda assim, é necessário formas puras apriori da intuição, transcendentais, que permitem cognizar a experiência sensível, ou seja, salva-guardando a necessidade de algo que predique o plano fenomênico, e essa é a tradição pós-kantiana, a de que é necessário algum grau de metafísica para justificar a possibilidade do empirismo.

Por outro lado, empiristas e positivistas tentam a todo custo matar a metafísica e reduzir o entendimento humano ao cientificismo puro.

Onde chega Russel...

E o que um matemático racionalista teria a ver com o empirismo ou positivismo?

Se por um lado os empiristas tinham as ciências da natureza como fundamentação de seu paradigma científico e de justificação de seu ateísmo, era no racionalismo da época que permanecia a defesa de Deus, porque quase todo racionalista entendia a razão como algo metafísico e/ou fruto de algo metafísico. Quando Russel surge, como racionalista, ele reduz a razão a algo independente de explicações metafísicas.

Quando Russel diz entender a matemática como algo axiomático, que explica a si mesma e que não precisa de algo que a predique, ele traz novos fôlegos a aqueles que querem afirmar que um sistema não precisa ser predicado por outro exterior a ele, porque as cinco vias, o racionalismo e o idealismo são sustentados nessa premissa. O logicismo de sistema fechado em-si mesmo, axiomático de Russel traz um argumento ao ateísmo. E é ai que surgem neo-positivistas com a proposta de que o empirismo enquanto sistema fechado é auto-explicativo e não precisa de nada que o predique, e é aqui que temos todo o cientificismo moderno. Enquanto Gödel e pós-kantianos vão contrariar isso com a defesa de coisas como mito do dado ou o teorema da incompletude, o que o teorema da incompletude de Gödel faz é uma prova matemática que algo justificado em si mesmo não pode ser perfeito ou completo ao mesmo tempo, a incompletude de Gödel é um ataque objetivo contra a axiomatização russeniana e consequentemente um ataque ao neo-positivismo, com a tentativa de trazer de volta a defesa de que nenhum sistema é válido em si mesmo e que sempre precisa ser predicado por algo exterior e apriori a si. Dizemos que a incompletude de Gödel é também a prova matemática de Deus porque ele demonstra que um sistema fechado em si mesmo não é perfeitamente auto-explicativo, consequentemente, o empirismo puro enquanto sistema fechado em si mesmo também não o é.

Texto do Douglas:

Nenhum comentário:

Postar um comentário